quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Entrevista| Interview: Araminta Star Matthews




Ela é professora de escrita e literatura em duas universidades perto da sua casa, é professora secundária de ensino de Inglês para adultos, é conselheira ocupacional e escritora de várias disciplinas e géneros. Com tudo isto só podemos perguntar “como consegue arranjar tempo para respirar se está tão ocupada”?
Araminta Star Matthews vive na segunda maior cidade do estado do Maine, nos Estados Unidos da América, e afirma que “trabalha muito em artesanato, principalmente artes com fibras e barro”. Também “lê imenso” e está “sempre a escrever algo”. Passa os seus poucos “tempos livres aconchegada ao seu cão ou a adorar o seu gato”.
Vamos conhecer Araminta Star Matthews, autora de “Blind Hunger” (“Fome Cega” em Português), um livro cheio de terror, emoção… e pessoas mortas a andar por aí, perseguindo as crianças para cravarem os dentes em carne tenra e deliciosa.


Olá, Araminta! Vamos começar com uma pergunta fácil. “Blind Hunger” é uma história sobre zombies. Tem medo de zombies?

Mais ou menos. Os meus maiores medos reais são carraças e “Bobbleheads” (bonecos com a cabeça maior que o corpo e que oscila de um lado para o outro). Há qualquer coisa na forma como os “Bobbleheads” se movem que me assusta. Zombies? Bem, acho que podia bem com umas investidas de não-mortos ansiosos por carne.

O que a levou a escrever esta história em particular?

O meu companheiro e eu somos grandes fãs de terror e do Dia das Bruxas, e vimos todos os filmes de zombies desde os anos 40. Começámos a fazer os nossos próprios planos de sobrevivência a zombies. Tornou-se em algo em que viajaríamos pelas estradas e procuraríamos edifícios que fossem boas fortalezas contra ataques de mortos-vivos. Não ironicamente, os Templos Maçónicos que normalmente não têm janelas onde vivo seriam fantásticos em caso se um apocalipse zombie. A conversa eventualmente terminava em “o que aconteceria se as crianças tivessem que sobreviver a um ataque?” e foi assim que “Blind Hunger” surgiu.

Alguns escritores gostam de mencionar, por exemplo, sítios reais ou inspiram as suas personagens em pessoas que conhecem. Há algo real em “Blind Hunger”?

Bem, a localização é basicamente New England, nos Estados Unidos. No entanto as personagens estão todas misturadas. Ou seja, peguei em várias pessoas que conheço na minha vida real e recriei-as no papel.

Qual foi a parte mais fácil de escrever? E a mais difícil?

A parte mais fácil foi os diálogos da Kiley. Sarcasmo é-me algo natural e sei que o sarcasmo de uma rapariga adolescente pode ser o mais amargo de todos. As partes mais difíceis de escrever foram as fraquezas da Sage. Noto uma falta de raparigas e mulheres fortes na literatura, por isso criei deliberadamente a personagem mais jovem como a mais forte, tanto intelectualmente como, em alguns casos, também fisicamente. Mesmo assim a Sage é uma menina de 9 anos (por mais sobredotada que seja) e meninas de 9 anos sentem a falta das suas mães. Isso foi difícil.

Depois de escrever “Blind Hunger” que passos seguiu para o publicar?

Editei-o várias vezes antes de o submeter tanto a agentes como a editores. Levou-me um ano a encontrar-lhe “uma casa” e mais outro a fazer meia dúzia de alterações para que estivesse suficientemente apresentável para publicação em papel e em formato digital. Editar é difícil. Talvez devesse ter dito que editar foi a parte mais difícil no processo de escrita, principalmente porque não gostei sequer metade de editar o meu trabalho quanto de escrevê-lo.

Quais os principais obstáculos que encontrou quando tentou publicar o seu livro?

Foi o meu primeiro livro e ninguém publica ficção agora. Ou seja, se uma pessoa quer fazer chegar o seu livro ao público, tipicamente tem que auto-publicar ou colocá-lo na Internet. Eu não consegui ir por esse caminho. Sabia pelo meu trabalho de graduação e pós-graduação em escrita criativa que não seria levada a sério como escritora a menos que tivesse uma edição de terceiros. No entanto, ninguém diz o quão difícil é encontrar esse editor. Há que desenvolver uma “pele dura” no que se refere a rejeições, e há que recusar-se a desistir. Seria fácil desistir depois de, digamos, receber a carta de rejeição nº 15, mas não se pode. O jogo da escrita simplesmente joga-se assim.

Que comentários recebeu dos leitores até agora?

Em geral o feedback tem sido extremamente favorável. As pessoas consideram-no uma nova visão sobre um género muito explorado, ou seja, é um olhar fresco na ficção zombie. Algumas pessoas tiveram algumas críticas válidas sobre alguns detalhes que serão resolvidos na história paralela e na sequela.

Qual o melhor elogio que recebeu?

O de uma bibliotecária de literatura para jovens adultos no Midwest, julgo eu. Ela disse que era o melhor livro de zombies que já leu. Isso foi simpático.

“Blind Hunger” é o seu primeiro livro, mas já publicou outras histórias?

“Blind Hunger” é o meu primeiro livro mais completo. Tenho vários trabalhos mais curtos flutuando no éter e mundos de impressão. Tenho um livro de não ficção em co-autoria com dois colegas, que deve sair em Março de 2012. Há ainda a história paralela de “Blind Hunger”, que segue a viagem da amiga de Sage, Amanda, para o armazém (o lugar para onde Sage e os outros se dirigem no final do livro); deve sair nas próximas quatro edições da Dark Moon Digest.

Onde costuma escrever?

Escrevo principalmente no meu escritório, num computador tradicional (não num portátil). É um lugar onde me “apetece” trabalhar. Isso é outra coisa que não dizem - escrever é um trabalho, e um trabalho duro. Não espere ser um escritor e passar os dias sem fazer nada. A escrita é um trabalho a tempo inteiro (geralmente em cima de outro trabalho também a tempo inteiro).

Tem alguns "rituais" que segue quando escreve?

Alguns. Escrevo há tanto tempo, que agora posso quase sempre sentar-me apenas em frente ao teclado e derramar as palavras sem quaisquer preliminares. Às vezes fico tão perdida na escrita que me esqueço de comer. Tenho, no entanto, um ritual que sigo ao escrever os momentos das personagens e que consiste em representar as suas reacções usando dispositivos teatrais. Acho que isso me ajuda a entrar "nos seus corpos" para descrevê-los melhor. Não é incomum verem-me a rebolar no meu chão, enquanto finjo evitar um zombie só para saber o que se "sente" nessa situação.

Como constrói as suas histórias? Surgem-lhe simplesmente na mente e escreve-as ou concebe um esquema primeiro?

Acredito que as melhores histórias são aquelas que surpreendem até mesmo os escritores. Como tal, começo com uma linha base – que neste caso foi "todos os adultos transformam-se em zombies" - e em seguida crio um elenco de personagens. Atirou-os então para as situações e vejo o que fazem. Sou muitas vezes surpreendida.

Está a trabalhar num novo livro de momento?

Estou a trabalhar num manual de escrita de não-ficção (com um tema de terror) com dois co-autores, bem como numa história paralela de “Blind Hunger” chamada “The Warehouse” ("O Armazém” em Português). Também estou a terminar outro livro sobrenatural para jovens adultos. Depois disso, talvez venha a sequela de “Blind Hunger”.

Onde é que os leitores a podem encontrar?

Sou uma autora Goodreads. O Facebook tem uma página dedicada a “Blind Hunger”, da qual as pessoas se podem tornar "fãs" para mais informações. Também podem adicionar-me como amiga através dessa página. Tenho uma conta no Twitter, mas confesso que não a uso tão frequentemente como gostaria. Também tenho um site que está em processo de revisão, http://www.aramintastar.com/. Obrigado, Rute! A tua crítica foi maravilhosa!

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