quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Entrevista | Interview: Sara Farinha


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Olá, Sara. Podemos começar com uma pequena apresentação?
Sou Lisboeta, por nascimento e permanência, onde me licenciei em Sociologia do Trabalho e onde trabalho em algo totalmente diferente da área de formação e de inclinação. Vivo de sonhos, um deles é viajar por esse mundo fora, outro é dedicar-me completamente à escrita, a par de tantos outros que não caberiam aqui. Leoa de signo e de perfil, considero-me muito teimosa e determinada, com todas as vantagens e desvantagens que isso traz. Acredito em valores morais definidos e em agir de acordo com esses valores e, sou uma perfeccionista inveterada em tudo o que considero importante. Adoro música, poesia, ler, língua inglesa, conhecer sítios novos, fotografia, estar rodeada de amigos, uma boa conversa e, gosto de estar sozinha.

Quando começaste a escrever?
Comecei a escrever cedo, lembro-me de algumas histórias que não chegaram aos dias de hoje e de muitas letras de músicas que chegaram, poesia e alguns inícios de diários pessoais. Escrever sempre foi uma forma de organizar a mente de exorcizar demónios e arrumar memórias, um escape para a minha imaginação activa.

O que te levou a dar o salto e decidir partir para a publicação do teu livro?
O que me levou a publicar foi o desejo de partilhar e de aprender. Quis saber o que seria ter um livro meu nas mãos, de perceber o que muda e o que se mantém na minha vida literária. Ser escritora não é publicar, mas também é publicar. Ser escritora é escrever muito, com método, seguindo regras e ser persistente. Publicar é um meio para atingir um fim, isto porque ninguém cria nada para si mesmo, toda a arte quer se partilhada. E mesmo aquelas coisas que não são fáceis de partilhar, são barreiras que o escritor aprende a saltar, para que outros possam ler, viver e apreciar.

Como se desenrolou o processo de procurar uma editora?
Procurar uma editora foi um desafio pessoal bastante contraditório. Aquele sentimento que nos assola quando pensamos em colocar o nosso trabalho à prova, é um dos piores arrepios que se pode sentir. Carregar no ‘Enviar’ quando se tem tanto a perder ou ganhar, é assustador. Posso afirmar que, a minha primeira experiência de publicação foi planeada e os resultados expectáveis, mas não foi fácil. A esperança inicial de ser reconhecida e, de certa forma, orientada através do mercado literário português, rapidamente deu lugar à vontade de melhorar sozinha. A ervilha desidrata que este país se tornou não tem espaço para os que esperam, mas sim para os que lutam. Dos contactos que fiz, duas editoras mostraram-se interessadas em publicar. A Alfarroba desde cedo demonstrou preocupação em envolver o autor pessoalmente e, foi isso que me ajudou a escolher. O profissionalismo das pessoas da Alfarroba tem sido confirmado repetidamente e estou bastante satisfeita com a minha escolha. Mas, volto a afirmar, nada se consegue sem esforço pessoal e persistência e, esse tem sido o meu mote na divulgação desta obra e do meu trabalho, de uma forma geral.

Quais as maiores dificuldades que tens encontrado pelo teu caminho enquanto escritora?
As maiores dificuldades podem ser resumidas a duas. A primeira é a questão do tempo, nunca parece haver tempo suficiente para tudo. Este é um problema de que padeço e do qual nunca me irei livrar, e ainda bem porque não tenho feitio para estar parada. A segunda dificuldade foi o combate interior entre partilhar e não partilhar aquilo que escrevo. Chamem-lhe vergonha, crítico interior, falta de confiança, o que quiserem. Aquele receio de que nunca esteja suficientemente bom, foi e é uma pista de barreiras a ultrapassar. A parte positiva tem tantas facetas que se torna difícil resumir, mas a principal tem sido o interesse e o apoio das pessoas. O incentivo dos que me são mais próximos e o interesse dos que, até aqui, não eram assim tão próximos. A experiência de publicar tem-me proporcionado muita satisfação e novos desafios, assim como a possibilidade de partilhar diariamente (no meu blogue http://sarinhafarinha.wordpress.com/) aquilo que escrevo, com as pessoas que se interessam por estes temas.

Quais os teus autores preferidos?
Tenho alguns favoritos que por um motivo ou por outro figuram numa lista sempre em crescimento. Fernando Pessoa, Eça de Queirós, J.R.R. Tolkien, Florbela Espanca, Bram Soker, Oscar Wilde, J.R. Ward, Luis Sepúlveda, Stephenie Meyer, Laurell K. Hamilton, Richelle Mead, entre outros. Eles influenciam-me e influenciam a minha escrita, de forma limitada e não exclusiva, porque há muitas outras histórias e formatos de expressão que me inspiram. Continuo a expandir a lista de autores, de histórias e a diversificar as fontes de inspiração.

Qual o teu género literário preferido?
Romance, Fantasia Urbana, Sobrenatural, Poesia. Uma boa história/poema é o meu género preferido, independentemente do tema ou público-alvo.

Quanto a “Percepção”, porque apostaste  em sensitivos?
A ideia original surgiu num daqueles textos esotéricos sobre as influências que algumas pessoas exercem sobre outras. Os verdadeiros vampiros psíquicos, extremamente sensíveis e predadores das emoções dos outros, com quem se cruzam diariamente. Quando contemplei escrever uma história foi esta ideia que serviu de alavanca para as primeiras pesquisas. O factor paranormal e a contínua corrente de indivíduos que afirmam sofrer desta “doença”, foram decisivos na temática de Percepção. Empaths, em Inglês, é um termo muito mais aproximado da alegada condição destas pessoas, que se transformou em Sensitivos, perdendo um pouco a génese do termo mas facilitando a absorção do conceito no nosso idioma. Mas o factor determinante desta escolha vem dos testemunhos, alegadamente reais, dos que admitem sofrer deste distúrbio. Tentei assim juntar as duas partes que compõem o ser humano, a céptica que não acredita excepto se lhe fornecerem provas científicas, e a boa espectadora que desliga o cepticismo e embarca nas viagens fantasiosas que nos alimentam a imaginação.

Que feedback tens recebido?
De uma forma geral tenho recebido feedback muito positivo. Mas, começando pelas críticas construtivas que recebi e por algumas ideias sobre elas: Quem leu aponta algumas coisas que para mim não são novidade, mas que se tornaram difíceis de contornar. Um excesso de explicações no início, que foi a forma escolhida de introduzir um tema que é de certa forma, novo em literatura portuguesa. A opção de usar aspas para delimitar os diálogos, da qual não me arrependo, mas compreendo quem se opõe. A introdução declarada do conflito numa fase tardia da história, apesar desta ter sido inserida discretamente no início da história. Estas são situações que devo trabalhar de outra forma no futuro. Quanto ao feedback positivo: As ideias que surgem frequentemente sobre “Percepção” enfatizam as descrições reais da cidade de Londres e da vivência dos seus habitantes estrangeiros, algo que pude transmitir fidedignamente devido às viagens que fiz e à minha paixão pela cidade. A novidade do tema dos Sensitivos e a fuga ao uso dos heróis sobrenaturais mais comuns do momento, como vampiros e lobisomens. Tal como afirmei anteriormente, a minha ideia de juntar fantasia e realidade, suscitou opiniões positivas. As personagens principais e o romance são outro factor que cativou quem leu, assim como a possibilidade de uma sequela que esclareça o conflito em ascensão no primeiro volume. A cadência das cenas de acção, sempre carregadas de sentimentos mas nem por isso com menos adrenalina imbuída, têm sido argumentos lisonjeadores usados para descrever “Percepção”.

Se te propusessem reescrever “Percepção”, o que mudarias?
Mudava os pontos que mencionei acima como críticas construtivas. Desde que “Percepção” viu a luz do dia no seu formato em papel que aprendi muitas coisas sobre a arte de escrever. Neste momento mudaria muitas coisas nesta história, mas não mudaria nada daquilo que considero ser a estrutura fundamental: as personagens principais, a temática, os cenários, os conflitos, tudo isso agrega aquilo de que gosto nesta história e que acho que consegui passar com sucesso para o leitor. É uma aventura, uma história de amor, um mundo interior novo, capacidades mentais impressionantes e um conceito de aculturação latente que contam como trunfos nesta história. Tudo isto seria sempre para manter e desenvolver.

Quando sai o próximo volume?
Confesso que não tenho planos definidos sobre a criação de um segundo volume de “Percepção”. Não é uma ideia que coloco de parte mas, neste momento é preciso que a história atinja aquilo que defini como, os seus objectivos. Se daqui a um ano houver público para isso, se as pessoas estiverem genuinamente interessadas na história de Joana, Marco e do Convénio, então irei considerar essa hipótese. Mas não neste momento, a escassos dois meses e meio de vida pública de “Percepção”. Ainda é cedo para prometer trazer a público uma sequela que ainda não passou da imaginação para o papel.

Estás a trabalhar em algo agora?
Sim, em várias coisas ao mesmo tempo. Entre os artigos para os meus blogues, entrevistas, o lançamento de um dos meus poemas na Antologia “Entre o Sono e o Sonho” da Chiado Editora, tenho pendente a revisão de uma história (esta sobre Anjos e Demónios e, ainda sem um nome satisfatório) e uma história nova, esta um pouco mais tradicional dentro do género Fantástico (a minha primeira história de vampiros). Este ano também decidi abraçar um projecto pessoal chamado Short Story Writing Challenge 2012, no qual me proponho a escrever um Conto por cada mês do ano, e no final do ano eleger um deles para disponibilizar online. E como este projecto é um desafio pessoal, por motivos que explico no meu blogue, estou a encará-lo seriamente.

Que objectivos tens para a tua vida na vertente literária?
Continuar a escrever. Em Português, em Inglês, Romance, Poesia, Contos e tudo o que me aprouver. Voltar a publicar em papel. Aderir à auto-publicação digital (o futuro). E todo e qualquer projecto que envolva a liberdade criativa e de expressão que a escrita me proporciona.

Onde podem os leitores encontrar-te?
As redes sociais onde tenho uma presença frequente, como autora:

Páginas associadas ao livro “Percepção, uma estranha realidade”:
O meu blogue dedicado a “Percepção”:
Página de Percepção no Facebook:
http://www.facebook.com/percepcaoumaestranharealidade

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