terça-feira, 22 de maio de 2012

Entrevista| Interview Fátima Almeida



Olá! Pode começar por falar-nos um pouco de si? Quem é a Fátima?
Olá! Antes de mais, muito obrigada por esta oportunidade de falar do et al.
A Fátima é professora, desde há nove anos, de Educação Especial. A minha formação de base é uma licenciatura em Humanidades. Em Educação Especial, tenho trabalhado sobretudo com alunos disléxicos, uma vez que tenho estado quase sempre em escolas secundárias, onde, até agora, as problemáticas mais graves (DID, por exemplo. Nomenclatura que, a partir de 2007, substitui a designação «Deficiência Mental».) já não tinham lugar – porque esses alunos, até à Lei n.º 85/2009, de 27 de agosto, estavam na escola apenas até aos 16 anos.
A dislexia é, sem dúvida, das áreas que mais me fascinam. Por esse facto, resolvi ir sobretudo por aí, o que me levou a escolher como tema da dissertação de mestrado a dislexia.
Eu sou sobretudo isso. A vertente da investigação, das leituras várias, das escritas várias, tem um peso enorme no contexto daquilo que eu sou.

Quando começou a dedicar-se à escrita?
Desde que me lembro. O meu lugar preferido sempre foi sentada a ler ou a escrever. Ainda hoje. Eram, durante muito tempo, registos, desabafos, que, muitas vezes, cessavam quando o mote ficava ultrapassado.

Como surgiu a ideia de escrever “Et Al”?
Começou da mesma forma que muitos outros textos que escrevera, enquanto repositório de reflexões, de desabafos. Talvez tivesse ficado, como outras histórias, por concluir, não fosse o facto de ter dado a ler páginas do que já havia a três pessoas que me incentivaram imenso a continuar.

Sobre o que é este livro?
“Et al. é, em primeiro lugar, uma incursão, na primeira pessoa, pelo mundo da Dislexia.
Enquanto professora de Educação Especial de alunos disléxicos, tenho estado no outro lado. Enquanto investigadora nesta área, investigação que integra a dissertação de mestrado recentemente concluída, procurei, procuro, causas, consequências, o como intervir.
Mas o que será ter dislexia? Como será lidar com o inferno que são os outros? Com a ausência do sentido das palavras, com a incapacidade de os sons se unirem num eco inteligível?
Maria das Neves narra o ser disléxico desde a altura em que lhe gritavam o seu INHENHO no recreio da escola até ao momento da sua morte, rodeada por todos os nomes, agora lidos.
O inferno, disse-o Sartre, são os outros. Perdoar esses outros é uma construção longa, por etapas, por nomes. “Et al.” fala de todos os nomes necessários para a construção do outro lado da dor. De todos os nomes, não. De alguns. Os outros, alia, são apenas sugeridos no título, lembrando que muitos há, mas que estão num lugar de pseudo-esquecimento, de fuga. De cura. Por qualquer razão, são apenas os outros. Existem, contudo, nem que mais não seja porque são o que somos, ou somos o que eles foram. E essa, como que, homenagem preenche o rosa da capa.
O rosa que lembra a dor de ser mulher e de todas as derivantes afins: maternidade, a solidão do lado mais difícil da equação.
De rosa, como disse a Prof.ª Maria de Jesus Cabral no lançamento, o livro tem apenas a capa. Contudo, algo sobrevive por entre toda a revolta gritada, sugerida, silenciada. E, afinal, em jeito de revelação, para a própria autora, talvez haja esperança. Para o que quer que seja.
Num mundo, tantas vezes insano, fará sentido que seja a Loucura, de Erasmo de Roterdão, a lembrar que tudo são escolhas. O ficar-se do lado de lá ou de cá do perdão é uma escolha. Como Natália, que optou pelo outro lado, arrastando consigo Maria das Neves, e lavando-a na própria água onde se afundara.
Natália fez várias escolhas. Uma delas foi morrer, mas apenas porque, tal como o Principezinho, talvez (já) não houvesse outra forma de prosseguir. Foi a sua última luta. Essa escolha.

Como se processou a procura de uma editora disponível para apostar no seu livro?
Conhecera uma das pessoas da Editora Edições Esgotadas num curso de voluntariado uns meses antes. Esse foi o motor que me fez deslocar àquela editora. Quando a Comissão Científica dessa Editora leu o texto, fui informada de que estavam disponíveis para o editar. Estou muito grata à Edições Esgotadas por esta oportunidade.

Que comentários tem recebido a propósito de “Et Al”?
Comentários muitíssimo positivos. Alguns, vindos de pessoas consideradas «especialistas» de determinadas áreas da escrita, que realçaram uma vertente mais técnica – a forma como a história nasce, se cria, se constrói; outros, de pessoas que gostam (simplesmente) de ler, que enfatizam as reflexões, mais até do que a história, que as personagens permitem e lhes permitem.

Quais são os seus planos no que concerne à escrita?
Continuar. Sempre! Já iniciei um outro texto, que terá como um dos temas centrais a temática da minha próxima investigação (no contexto do doutoramento). Será também sobre duas outras temáticas que, há muito, quero conhecer melhor. Não poderei dizer mais… apenas que não será sobre dislexia e que tenho muito para estudar!

Onde podem os leitores seguir o seu trabalho?
Gostaria muito que me contactassem para a página do livro (http://www.facebook.com/etalolivro) e até que conhecessem um pouco do que, juntamente com o Psicólogo do Agrupamento onde leciono e com uma técnica informática, temos feito no contexto de um apelo à inclusão escolar e social – porque o et al. é também uma luta pelo direito à diferença – em http://inclunet.esec-nelas.rcts.pt/portal/. Poderão também contactar-me para o mfffalmeida@gmail.com.

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